Entendo a indignação e desilusão em geral com a política, mas quanto mais desilusão, sobretudo se convertida em voto nulo, mais o parlamento fica livre para ser ocupado pelos que possuem interesses declaradamente contrários ao bem comum. Em tempos sombrios como este, resta-nos não esmorecer. O discurso antipolítica tem nos afastado ainda mais da participação política e do controle social do estado.
Em geral nos falta muitos dados para fazermos uma
escolha política bem informada, mas mesmo que tivéssemos os dados, temos que
saber qual Projeto de Sociedade almejamos. Neste sentido há dois grandes pólos
muito explícitos, de um lado, temos a elite brasileira que a nível global são
agentes locais em colaboração com o Império financeiro angloamericano. Aqui no Brasil fazem parte da Associação de Agronegócio, da Bancada ruralista, da Confederação
Nacional da Indústria (CNI), da Direita partidária (PSDB, DEM) e são ou representam
os donos dos bancos, das grandes construtoras, de fábricas e empresas, de
usinas, das tevês, rádios, jornais e portais da internet...Do lado oposto temos a classe trabalhadora e popular,
indígenas, movimentos sociais, população LGBT, sindicatos trabalhistas,
centrais sindicais, Justiça do Trabalho e algumas Ongs...É à favor deste lado
que pretendo me posicionar.
A política pode ser um instrumento valioso em defesa dos interesses do povo e pode ter um papel transformador voltado ao bem comum. Mas o voto é apenas mais uma maneira de enfrentarmos esta enorme disparidade de forças. Devemos continuar com as tarefas de organização e formação para além da questão eleitoral e institucional. Os movimentos sociais é que precisam se empoderar para transformarem a sua influência social em poder político efetivo. É o povo organizado, como força social, que pode enfrentar com mais vigor os grandes problemas do povo brasileiro.
Minha candidata presidencial é Luciana Genro, do
Psol, um dos poucos partidos capazes de capturar a insatisfação com a velha
política manifestada por milhões que saíram às ruas em junho de 2013.
E no segundo turno, pretendo votar na Dilma e não vejo problema em si na reeleição. A possibilidade de alternar o poder é uma necessidade para a democracia, contudo sua obrigatoriedade não. O princípio fundamental da democracia é a soberania popular e não a alternância no poder.
E porque voto no PT no segundo turno? Porque
qualquer comparação evidencia o quanto essas duas últimas gestões foram mais
eficientes em termos de política social. No governo do PT se implementou muitos
Programas de Caráter Social: o Bolsa-Família, o ProUni, o Brasil
Sorridente, a Farmácia Popular, o Luz Para Todos, a Minha Casa Minha Vida,
o Pronatec, o ProUni, o Ciência Sem Fronteiras, o Água Para Todos...e não há
dúvida de que agora as pessoas vivem melhor do que há quinze ou vinte anos
atrás. Quando analisamos os indicadores econômicos e sociais percebemos
inúmeros avanços. O grau de inclusão social foi o mais elevado da história do
país, com várias pessoas deixando a miséria e famílias pobres vendo seus filhos
ingressarem em uma universidade pela primeira vez.
Veja alguns dados, embora ainda fragmentados:
Dados: PT x PSDB: Gestões petistas e tucana em
comparação: http://www.valor.com.br/sites/default/files/gn/13/02/arte21pol-103-aecio-a8.jpg
Mais e a corrupção? Nunca vimos tanta corrupção como agora?
A corrupção tem sido um mal constante na nossa história, em todos os governos,
e não podemos isolar um caso dos demais e torná-lo único. O quanto de corrupção
houve em cada um dos governos? No governo do PT teve mensalão, as sanguessugas,
Erenice Guerra, Waldomiro Diniz, Correios...e no governo FHC teve SUDAM,
SUDENE, Anões do Orçamento, mensalão da reeleição, SIVAM, etc. A corrupção é
errada e toda ela deveria ser investigada, seja feita para comprar votos, seja
para pagar dívida de campanha,...Apesar de haver corrupção em ambos os
governos, os últimos anos foram marcados por um combate inédito ao crime com
Polícia Federal e Procuradoria-Geral da República independentes para apurar
denúncias. É possível avançar ainda mais no controle social da destinação dos
recursos públicos, por meio de conselhos setoriais e comitês gestores dos
órgãos públicos.
O Brasil é um país com profundas e históricas
desigualdades sociais e econômicas e estamos vivendo o maior período
democrático da nossa história (25 anos, sete eleições consecutivas). O Lula
(2002) represa uma virada no destino político do nosso país, com ele tivemos o
primeiro governo popular em 502 anos. Mas as mudanças que o PT realizou foram
de pequena magnitude. Os avanços são fracos, a conta-gotas. O PT apesar de se
constituir de grupos oriundos da classe trabalhadora, governou segundo os
interesses prioritários do capital. O PT tem se limitado a Administrar o
Capitalismo. Nenhuma reforma estrutural aconteceu. Tempo deu. Faltou
coragem, vontade ou força política? O que foi feito e o quanto se poderia
fazer e não se fez? Podia ter feito muito mais. O processo político tem
alterado de modo estrutural a desigualdade e exploração secular? O quanto
da riqueza do país está nas mãos dos 10% mais ricos da população brasileira?
Qual o tamanho da diminuição da pobreza diante da tamanha desigualdade
econômico-social brasileira? O Brasil está entre as 6 maiores economias
mundiais mas nosso índice de desenvolvimento humano está por volta de 79º
lugar, apesar de ricos, temos grande desigualdade e concentração de renda. Em
2006, 1% dos proprietários rurais detinha por volta de 44% da propriedade da
terra e hoje? Mesmo com programas sociais federais e estaduais e apesar dos
recordes de produção agrícola a fome ainda faz parte do convívio de um número
grande de pessoas, aproximadamente 9 milhões. Número elevado, tendo em vista a
extensão territorial do país que apresenta grande potencial agrícola, contudo
com grande concentração fundiária e de renda e com uma monocultura de
exportação, em grande parte destinada à nutrição animal em países centrais.
E Dilma Rousseff nas áreas do meio ambiente,
quilombolas e indígenas pode ser pior que Marina Silva. Tenho familiares e
amigos que vão votar na Marina. Ela tem seus méritos: o desmatamento da
Amazônia não aumentou durante a sua gestão frente ao MMA. Foi sob seu ministério
que o governo Lula criou o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do
desmatamento na Amazônia e iniciou-se a reversão do quadro histórico, o
enfrentamento da dinâmica em suas diversas frentes, e se idealizou o marco
regulatório e normativo que permitiram a redução das taxas de
desmatamento...contudo em sua gestão enquanto ministra também licenciou grandes
obras que representam danos ambientais e sociais. Sua inconstância nem sempre é positiva, nos últimos
5 anos esteve em 4 partidos diferentes: PT (1985-2009), PV (2009-2011), REDE
(fev/2013 - out/2013) e PSB (out/2013 até o momento). Avaliando os prós e contras
entre Marina e Dilma, creio que a Dilma tem mais condições de dar continuidade
nas importantes transformações econômicas e sociais que estão no começo,
sobretudo pelo PT ter uma base parlamentar bem maior. É preciso melhorar muito
ainda, seguir avançando, fazer mais e mais transformações no Brasil,
garantir, consolidar e ampliar as políticas favoráveis à nossa emancipação.
Mas e se as mudanças realizadas pelo PT foram tão
poucas, o que move este enorme ódio contra ele? É sobretudo porque a elite
brasileira, fundada e perpetuada no escravismo, luta ferozmente para manter qualquer
migalha que caia dos seus privilégios. E a elite vota no PSDB e no DEM e quem
tem um pouco mais de idade sabe que no último governo do PSDB na presidência do
país, do mega-entreguista FHC, faltava empregos, o poder aquisitivo da
população não existia, as empresas nacionais ao invés de receber qualificação e
apoio, foram todas entregues ao capital estrangeiro, além da revogação de
muitos direitos adquiridos pelos trabalhadores, como o aumento do tempo de
contribuição para aposentadoria e criação do fator previdenciário. A dúvida
entre Dilma e Marina é compreensível, mas reeleger o PSDB é sem dúvida alguma
um grande retrocesso. Como exemplos, além da Presidência no Governo FHC, do
governo de São Paulo, temos também a experiência no Governo de Minas, que
deixou a educação em situação lastimável.
Referências:
BENAYON, Adriano. Brasil. Como sobreviver?
01.09.2014. http://www.viomundo.com.br/politica/adriano-benayon-economista-diz-que-marina-silva-e-afronta-memoria-de-miguel-arraes.html
BOUCHER, Doug. How Brazil
Has Dramatically Reduced Tropical Deforestation. http://www.resilience.org/stories/2014-07-03/how-brazil-has-dramatically-reduced-tropical-deforestation
CARVALHO, Luiz e RAMOS, Vanessa. Juristas atacam
programa de Marina Silva que defende terceirização sem limites. http://www.cut.org.br/noticias/juristas-atacam-pontos-do-programa-de-governo-de-marina-que-defende-terceirizaca-e6f3/
FURTADO. Jorge. Cineasta explica os motivos que o
fizeram apoiar a reeleição de Dilma Rousseff. http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/09/jorge-furtado-voto-contra-tudo-isso-que-esta-ai/
GENRO, Luciana. Marina é a segunda via do PSDB.
20/08/2014. http://www.cartacapital.com.br/politica/marina-e-a-segunda-via-do-psdb-9911.html
IASI, Mauro. Candidato a presidente do PCB. https://www.youtube.com/watch?v=W2gzITZAiA8
JESUS, Jaqueline. Retiro meu apoio a Marina
Silva. http://jaquejesus.blogspot.com.br/2014/08/porque-votarei-em-marina-silva.html