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sábado, 24 de setembro de 2016

A esquerda, a direita e o maniqueísmo - Antonio Marques


Tenho insistido que nossa linguagem ainda é bastante insuficiente para dar conta da complexidade dos fenômenos existentes. Mas com um pouco mais de cuidado e reflexão podemos evitar alguns abusos destas precariedades linguísticas. Refiro-me às categorias esquerda e direita. Elas surgiram no contexto da Revolução Francesa e representavam as posições físicas e políticas dos membros da Assembléia Nacional, os partidários do rei ficavam à direita do presidente e simpatizantes da revolução à sua esquerda. 

A ciência política e as análises políticas feitas por não cientistas, desde então, tem com frequência feito uso de tais categorias. 

Hoje, podemos dizer, de modo bastante simplificado que dentro da dicotomia igualdade-liberdade, a esquerda se posiciona mais pela igualdade e a direita mais pela liberdade, incluindo aqui a liberdade econômica, a liberdade da burguesia de continuar explorando a mais-valia, a liberdade de manter a concentração de poder e propriedade a despeito da situação de todos. 

A esquerda, em tese, tem mais empatia pelo sofrimento humano, a direita é mais egoísta e individualista. Obviamente que estas categorias não são estanques e que funcionam em forma de espectro, são categorias relacionais. O PT pode ser esquerda quando comparado ao PSDB/DEM, mas é direita quando comparado ao PSTU/PCO e assim por diante.

O mundo seria relativamente fácil se pudesse ser simplificado numa dicotomia. Os bons seriam de esquerda e os maus de direita, mas o mundo é um pouco mais complexo. Mais do que repetir o truísmo, "na prática a teoria é outra", se trata de mostrar que as análises e as teorias e categorias sobre as quais se sustentam precisam se complexificarem para continuarem sendo instrumentos úteis de explicação e compreensão da realidade. Ou seja, qualquer esforço honesto de compreender a realidade irá perceber que o MANIQUEÍSMO é um instrumento de compreensão por demais precário. Seja o maniqueísmo de direita, seja o maniqueísmo de esquerda.

Do ponto de vista teórico, tenho afinidade com a esquerda. Creio que a desigualdade social é sim um problema central da humanidade e deve sê-lo também do Estado, a quem tem por dever dar soluções para o problema. Mas na prática tenho me deparado com algumas práticas da "Esquerda" que me deixam cada vez mais desanimados com o ser humano.

Quando por exemplo encontramos palestrantes esclarecidos propondo que dividamos os amigos dos inimigos exclusivamente segundo seus posicionamentos sobre um fato político, como por exemplo o Golpe do Governo Temer, por maior que seja a envergadura do acontecimento, ainda assim fico temeroso.

Fico temeroso quando vejo propostas de exclusão das pessoas dos grupos de whatsapp apenas porque elas não disseram SIM para os pensamentos que se pretendem os verdadeiros e justos.

Fico temeroso quando as pessoas insistem em enquadrar o mundo nos seus esquemas interpretativos ideais, como por exemplo querendo tratar os partidos e seus filiados como se fossem instrumentos coesos, quando na prática se sabe que boa parte dos partidos brasileiros são partidos pega-tudo. E que por mais errado que seja alguém estar num partido sem a preocupação que ele seja de fato um grupo, que tenha unidade entre programa, estatuto e prática, esta é a realidade de muitas pessoas.

Fico temeroso quando se defende analogias entre humanos e cobras, ou qualquer outro animal peçonhento, para justificar o combate firme, para ser eufêmico, a certos humanos. Dá para se imaginar o que deve se fazer com cobras, segundo algumas concepções.

Fico temeroso quando numa assembleia de supostos “educadores”, que dizem ter lido Paulo Freire, as falas das quais se discorda são vaiadas numa tentativa explicitamente protofacista de inibir e calar o divergente. Educadores tais, que lutam duramente contra a igualmente protofacista Lei da Mordaça.

Fico temeroso quando na microfísica do poder os golpes cotidianos que se leva não vem da maldosa e inimiga direita, mas dos companheiros de luta por um mundo melhor. A que se continuar perguntando. Melhor para quem? Melhor para quantos?

NENHUMA ILUSÃO COM O SER HUMANO, 


NENHUMA ILUSÃO COM O SER HUMANO, 


NENHUMA ILUSÃO COM O SER HUMANO...


Esteja ele em qualquer parte do espectro político.

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